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Tag Archives: Jorge Luis Borges

“Meus livros (que não sabem que eu existo)
São tão parte de mim como este rosto
De fontes grises e de grises olhos
Que inutilmente busco nos cristais
E que com a mão côncava percorro.
Não sem algum lógica amargura
Penso que as palavras essenciais
Que me expressam se encontram nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevi.
Melhor assim. As vozes dos mortos
Vão me dizer para sempre.

Meus livros / Jorge Luis Borges. — p. 123
In Obras completas : volume 3 : 1975-1985 / Jorge Luis Borges. — São Paulo : Globo, 1999 — 576 p. — Publicado originalmente em: A rosa profunda.

“Entre os livros da biblioteca havia um, escrito em arábico, que um soldade adquiriu por algumas moedas no Alcaná de Toledo e que os orientalistas ignoram, exceto na versão castelhana. Esse livro era mágico e registrava, de maneira profética, os feitos e palavras de um homem desde a idade de cinqüenta anos até o dia de sua morte, que ocorreria em 1614.
Ninguém encontrará aquele livro, que pereceu na famosa conflagração ordenada por um padre e um barbeiro, amigo pessoal do soldado, como se lê no sexto capítulo.
O homem teve o livro nas mãos e nunca o leu, porém cumpriu minusciosamente o destino que o árabe sonhara e continuará a cumpri-lo, sempre, pois sua aventura já é parte da vasta memória dos povos.
Será esta fantasia mais estranha que a predestinação do Islã que postula um Deus, ou que o livre-arbítrio, que nos dá a terrível potestade de escolher o inferno?”

O ato do livro / Jorge Luis Borges. — p. 332
In Obras completas : volume 3 : 1975-1985 / Jorge Luis Borges. — São Paulo : Globo, 1999 — 576 p. — Publicado originalmente em: A cifra.

“Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens sentiram-se senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloqüente solução não existisse: em algum hexágono.” (p. 96)

“À desmedida esperança sucedeu, como é natural, uma depressão excessiva. A certeza de que alguma prateleira em algum hexágono encerrava livros preciosos e de que esses livros preciosos eram inacessíveis afigurou-se quase intolerável.” (p. 97)

Biblioteca de Babel / Jorge Luis Borges.
In Ficções / Jorge Luis Borges. — 3. ed.– São Paulo : Globo, 2001. — 197 p.